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Operação Acolhida: Na fila da esperança

Publicado em 18/03/2024

Para trabalhar no Brasil, Jorge passou por filas para documentação, vacinas, alimentação, alojamento e entrevista de emprego

“Só nós vivemos a realidade da Venezuela. É muito difícil não conseguir dar um prato de comida para os filhos”. O depoimento emocionado e cheio de significado é do operador de máquinas do Indav, Jorge Luis Mendonza Lopez. Integrante do sexto grupo da Operação Acolhida na C.Vale, o tecnólogo em Produção Industrial, chegou em Palotina, no dia 5 de maio de 2023, com outros 26 compatriotas.   

 

Mas antes dessa mudança, a vida de sua família virou um caos com a instabilidade política e econômica vivida em seu país desde 2013. Em Valência, a 1.500 quilômetros de distância da fronteira com o Brasil, Jorge, a esposa, a farmacêutica Naery e os filhos Oriana Valentina (10), e Elyel Mateo (4), tinham uma vida tranquila, com casa própria, carro e segurança de emprego.

“A crise foi nos consumindo. Teve período que tínhamos dinheiro, mas não tinha produto para comprar. Depois a situação inverteu. Faltava dinheiro para tudo. Por meses, meus meninos comiam só uma refeição por dia. Era arroz, batata ou mandioca. Uma coisa só. Perdi 20 quilos. Eles, você pode imaginar”, relata o funcionário de 38 anos.

Em busca do emprego

 

Durante 45 dias, a jornada por uma vida melhor no Brasil se resumia a filas para documentação, vacinas, alimentação, alojamento e entrevista para emprego. “Quando falo em filas, são mais de mil pessoas buscando a mesma coisa”, relata.  Jorge conta que o percurso da sua casa até Boa Vista (RR), foi feito de ônibus. A viagem que levaria pouco mais de 12 horas, durou 36 horas em função das estradas precárias e a falta de combustível. “O transportador tinha que comprar combustível no mercado negro e nem sempre tinha”.

Refeição indigesta

 

Um dos mementos mais dolorosos para Jorge foram as primeiras refeições no Brasil. A diversidade e a fartura de alimento no prato eram até indigestas. “Eu tinha três refeições no dia e, os meus filhos só uma e reduzida. Esse sentimento trancava a minha garganta. Já chorei muito”, recorda.

Sua experiência em indústria de alimentos na Venezuela, abriu as portas na fábrica de termoprocessados da C.Vale. Começou no chão de fábrica, passou por várias áreas e hoje é operador da linha 4. Os próximos desafios é trazer a família para o Brasil e validar seu diploma ou fazer uma nova faculdade para conquistar outras funções dentro da cooperativa.

 

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