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SUCESSÃO FAMILIAR: Leite nosso de cada dia assegura a renda

Publicado em 07/12/2021

Família de Palotina (PR) aposta na produção de leite para garantir filhos no campo

Em uma tarde mormacenta de primavera, o sol impiedoso de uma longa estiagem castiga a vegetação de uma pequena propriedade de Esquina Progresso, interior de Palotina (PR). A grama bem aparada e dezenas de flores protegidas por um sombrite e irrigadas diariamente mostram suas cores nos fundos da casa onde os quatro integrantes da família Canal descansam após o almoço. Um casal animado e dois filhos adolescentes deixam a casa em direção à edícula de onde se avista um grande barracão em pré-moldado onde vacas e novilhas se protegem do calor atípico de setembro. Os animais são a fonte que garante toda a renda da propriedade de pouco menos de 10 hectares que os pais de Fabiana Ohlweiler deixaram a ela e ao marido Gilberto depois das limitações impostas pela idade. Os dois deixaram de trabalhar como funcionários de outros empreendimentos e assumiram a produção de leite em 2008 ainda com gado a pasto. As vacas holandesas caíam muito de produção nos meses quentes, o que levou o casal a construir uma estrutura que permitisse o semi-confinamento, a partir de 2014. Quatro anos depois, um novo investimento, desta vez para viabilizar o sistema compost-barn em que os animais se alimentam de silagem, ração e feno sob o barracão e permanecem o dia todo debaixo do galpão.

 

Nesses treze anos, não foi somente o rebanho que aumentou. O filho mais velho, que em 2008 tinha apenas quatro anos, ganhou a companhia do irmão Bruno e os dois herdaram dos avós Lauri e Marli o gosto   atividade leiteira. Gustavo, então com seus 6 ou 7 anos, ajudava o avô a levar alimentação para as vacas num carrinho de brinquedo. Agora com 17 anos, “bombadão” e com 1,90 metro, ele está concluindo o segundo grau e vai enfrentar vestibular de Veterinária pela UFPR. Mas os planos do jovem são fazer o curso superior e permanecer na propriedade, a exemplo do irmão Bruno, de 12 anos, que pensa em fazer Agronomia e também ficar no campo.

A empolgação dos jovens também tem forte influência dos pais. Fabiana diz que a atividade leiteira evoluiu muito e já não é mais tão desgastante quanto alguns pensam. “No tempo da minha mãe, a gente tirava leite na mão, até 12 vacas. Hoje é diferente, é tudo com máquina, dá muito menos trabalho”, assegura.

 

INVESTIMENTOS

Com a disposição dos filhos de permanecer na propriedade, Fabiana e Gilberto se sentiram mais estimulados a fazer investimentos. Ampliaram a estrutura que abriga os animais agora em 2021 e instalaram 90 placas para geração de energia solar. A evolução dos resultados da mudança do sistema a pasto para o compost-barn também contribuiu na decisão de investir. “A produtividade média aumentou 10 litros por vaca. Agora está em 28 a 30 litros por vaca”, conta Gilberto. Eles querem aumentar o número de vacas em lactação das atuais 28 a 30 para 45 a 50 em 2022. A esposa entende que os investimentos nos barracões e em ventiladores e aspersores “se pagam tranquilamente” enquanto o marido revela que os planos incluem equipamentos para irrigar a lavoura de milho. Eles colhem duas safras de milho por ano e não podem se dar “ao luxo” de perdas por estiagem já que toda a produção se destina a silagem. Além disso, querem produzir aveia para fornecer alimento seco aos animais. Animado, Gustavo acredita que dá para puxar essa média ainda mais para cima.

Gilberto e Fabiana entendem que o foco é aumentar a rentabilidade da propriedade, mas sem deixar de lado confortos que ajudem a trazer prazer de viver no campo. Para isso, instalaram uma piscina nos fundos da casa, para alegria, principalmente, de Gustavo e Bruno. A família planeja, ainda, ir melhorando continuamente a genética do rebanho e, para um futuro um pouco mais distante, construir uma nova sala de ordenha. “Nossa ideia é ir melhorando para deixar bom ‘pros’ piá”, conclui Gilberto. Fabiana tem confiança na atividade como fonte de renda. “A gente vive bem com o dinheiro do leite.”

RAIO X

 

Família Canal

Município: Palotina (PR)

Área: 9,7 hectares

Receita: leite (100%)

Rebanho: 60 animais

Lactação: 28 a 30 vacas holandesas

Produção: 24 mil litros/mês

Meta 2022: 40 mil litros/mês