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Soja RS: Preços em alta, produtividade em baixa

Publicado em 10/06/2020

Estiagem causa forte quebra na produção gaúcha de soja da safra 2019/20

Um ano depois de colher a segunda maior safra de todos os tempos, o Rio Grande do Sul experimentou uma das maiores frustrações climáticas de sua história. Enchentes no final de 2019 e uma prolongada estiagem em 2020 derrubaram a produtividade média para, aproximadamente, 27 a 29 sacas/hectare no estado. A quebra de safra veio num momento em que a disparada do dólar puxou os preços do grão para as alturas e impediu que a maioria dos produtores gaúchos aproveitasse a valorização da oleaginosa.  As cotações da soja alcançaram os maiores valores da história no estado, mas pouquíssimos conseguiram aproveitá-las. Uma estiagem que não deu trégua desde dezembro fez com que as plantações perdessem potencial produtivo até a colheita, em março e abril. Em Tupanciretã, maior produtor de soja do Rio Grande do Sul, a quebra ficou em torno de 46%.

Com um clima tão adverso, só se saíram melhor produtores com áreas beneficiadas por pancadas pontuais ou então que apelaram à irrigação. Na Campanha Gaúcha, a família Schroder da Silva fechou a colheita dos 350 hectares com média de 37 sacas/hectare. Os irmãos Márcio e Igor, e os pais João Luiz Ozório e Fátima possuem propriedades em Hulha Negra e Candiota, uma região de terra preta e fértil próxima ao Uruguai, que conserva a umidade do solo por mais tempo. Com parte das sementes tratadas industrialmente pela C.Vale, ele fez o plantio em outubro. A fase inicial da soja, no entanto, foi prejudicada pelo excesso de chuvas, mas a partir de novembro o clima mudou e as precipitações ficaram escassas. Em janeiro, o retorno das chuvas até animou os produtores, mas a estiagem voltou com força total em fevereiro e março, período decisivo de enchimento de grãos. Para reduzir os danos os Schroder da Silva aproveitaram uma área de 60 hectares de terras planas e usaram canais de irrigação de safras anteriores de arroz para dar um “banho corrido” na soja. Nesse talhão, a produtividade ficou em 56 sacas/hectare. “O custo é menor que o de um pivô”, justifica Márcio.

Com insumos já pagos, eles vão destinar parte da produção ao cumprimento de contrato e vão negociar o restante conforme surgirem oportunidades. A proximidade com o Porto de Rio Grande garante preços maiores, uma realidade que poucos produtores gaúchos conseguiram aproveitar devido à estiagem que fez o Rio Grande do Sul enfrentar a sexta maior quebra de safra em 32 anos.

 

FILOSOFIA DE PRODUTOR

Os Schroder da Silva chegaram à Campanha Gaúcha em 1975 para plantar arroz e criar gado em propriedade de 329 hectares. João Luiz e Fátima começaram cultivando 50 hectares no município de Bagé. Até a metade da década de 1980 também colhiam arroz e trigo para terceiros já que havia poucas máquinas disponíveis na época. O cultivo de soja começou no ano de 2002 com 22 hectares. Daí em diante foram aumentando gradativamente a área de soja, mesmo enfrentando os percalços do clima em uma região em que estiagens são frequentes. Assim como o cantor e compositor Noel Guarany tinha a sua “Filosofia de Gaudério”, o pai João Luiz, adorador de músicas gauchescas, revelou aos filhos a sua filosofia de produtor: guardar o “cobre na guaiaca” para fazer negócios à vista. Ensinou que se consegue condições melhores para comprar insumos com dinheiro na mão, aprendizado que Márcio e Igor levam adiante. Assim, seguiram adquirindo novas áreas até chegar aos 640 hectares atuais e ampliaram o cultivo de soja para a faixa de 350 a 420 hectares.

Dona Fátima, que não recusa desafios e era operadora de tratores quando o marido colhia, agora se diverte cozinhando e fazendo as vontades dos netos Mariana e Affonso, filhos de Márcio e Rosana Baumbach. “É uma excelente cozinheira deixa sempre tudo pronto na hora certa para que a gente faça as atividades”, reconhece Márcio. Igor, o irmão mais novo, diz que os pais já passaram o bastão. “O pai e a mãe trabalharam bastante e deixaram a parte operacional comigo e com meu irmão”, conta. Ele assegura que as decisões sobre os negócios são tomadas em família. Márcio complementa: “Quando surge uma dúvida na condução dos negócios, sempre recorremos à voz da experiência”, um sinal de reverência à sabedoria dos pais.

 

 

 

Raio X

Schroder da Silva

Fazenda do Sobrado  (Candiota)

Estância Lagoa Negra (Candiota e Hulha Negra)

Área total: 640 hectares

Soja: 350 a 420 hectares

Arroz: 50 hectares

Gado: 400 cabeças Angus, Braford e Hereford

 

Receita por atividade

Soja: 54%

Pecuária: 30%

Arroz: 16%

 

SOJA - RS

Menores produtividades

1988 – 17,85 sacas/ha

1991 – 11,81 sacas/ha

2004 – 23,18 sacas/ha

2005 – 9,75 sacas/ha

2012 – 23,21 sacas/ha

2020 – 27 a 29 sacas/ha*

Fonte: IBGE

*estimativa Aprosoja RS

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